CUBA _ Armando Valladares uma vítima das atrocidades do regime de FIDEL CASTRO


CONHEÇA A HISTÓRIA DE ARMANDO VALLADARES
UMA VÍTIMA VIVA DAS ATROCIDADES DO REGIME DE FIDEL CASTRO 

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ARMANDO VALLADARES  passou 22 anos nas desumanas prisões de Fidel Castro, unicamente por expressar suas idéias contrárias ao marxismo-leninismo. Preso rebelde, de profundas convicções cristãs e democráticas, negou-se aos “planos de reabilitação” do regime comunista.Isso desencadeou represálias brutais sobre ele, prisão, solitária e torturas. A sua família sofreu perseguições. Negaram-lhe alimento por 46 dias na tentaviva de quebrarem sua resistência. Como conseqüência amargou 8 anos em uma cadeira de rodas. Em 1982 o presidente da França, François Mitterrand, conseguiu que Fidel Castro libertasse o poeta.

NO BRASIL, FIGURAS REPRESENTATIVAS DA CHAMADA ESQUERDA CATÓLICA, COMO O CARDEAL ARNS, FREI BETTO, E LEONARDO BOFF VISLUMBRARAM NA CUBA COMUNISTA "SINAIS" DO REINO DE DEUS ONDE NA REALIDADE, O QUE EXISTE É UMA ANTE-SALA DO INFERNO. E ESTA REALIDADE ESTÁ DESCRITA EM "CONTRA TODA A ESPERANÇA".

ARMANDO VALLADARES escreveu “CONTRA TODA ESPERANÇA”   Abaixo cito alguns trechos dessa obra. É importante que os cidadãos brasileiros conheçam um pouco sobre a verdadeira história de Cuba, pois muitos dos comunistas brasileiros que se empenharam na luta armada contra o regime militar fizeram em Cuba seus cursos de formação em guerrilha. É deprimente saber que essas pessoas que compactuaram com o regime de Fidel e tentaram implantar o comunismo no Brasil, são hoje citados como heróis em filmes com tom de romantismo e ainda recebem volumosas pensões e indenizações. A verdade é óbvia, nenhum deles lutou para implantar um regime democrata, mais sim um regime totalitarista, a ditadura do proletariado.

TRECHOS do livro CONTRA TODA ESPERANÇA – 22 anos no GULAG das AMÉRICAS
Não acredito que o homem deva ser dogmático, mas sim que, ao contrário, seus critérios devem evoluir. Mas há algo em que ele não pode ceder: suas convicções ou valores éticos, que são como pilares que o sustentam interiormente. Se apenas um deles quebrar, o edifício íntegro de sua vida poderá vir abaixo.

Assassinatos e novos planos e fuga (cap. 25)    Os prognósticos do Ministério do Interior de que não resistiríamos um ano sem pedir a reabilitação política se esfumaçavam. Eles tinham confiado, achando que o terror nos dobraria. O fracasso os fez descambar para uma violência desesperada. Ia nascendo em nós uma consciência profunda, uma determinação inflexível de resistir, de não ceder. íamos vencendo o terror, íamos nos endurecendo, convencidos de que éramos o símbolo da resistência. Não podiam nos fazer renunciar aos princípios que nos deixavam orgulhosos, que nos definiam. Continuávamos resistindo, mas com tranqüilidade. Não era uma resistência fanática e obscura, mas sim clara, pensada, produto da nossa própria essência, da fé e do amor por Deus, pela liberdade.

A 9 de janeiro de 1966 os chefes de grupos reuniram-se na diretoria da penal. A reunião durou apenas alguns minutos. Foi uma análise rápida do porquê os presos contra-revolucionários não aceitavam a reabilitação. O método que combinaram para conseguir isso foi uma verdadeira operação de terror. Os chefes receberam instruções sanguinárias e deixaram-nos com as mãos livres para matar prisioneiros em cada bloco e generalizar o terror.

Quando os presos protestavam por alguma agressão, os escoltas começavam a atirar. Assim mataram, no bloco 31, Eddy Alvarez e Dany Crespo.

Deudado Aquit tinha pego seu prato e estava na fila diante dos caminhões, como se fazia todas as tardes. O cordão de escoltas encontrava-se muito perto e pronto para subir nos seus caminhões, depois que os presos, uma vez contados, subissem no deles. Soprava um vento forte. O chapéu de Aquit saiu voando e caiu a alguns metros. O preso pediu autorização ao chefe do grupo para sair da fila a fim de pegá-lo e o militar respondeu-lhe que esperasse um pouco, que ia contar os presos. Quando terminasse, ele poderia pegar o chapéu. O cabo começou a contagem, chegou ao final, voltou-se e fez-lhe sinal que já podia ir pegar o chapéu. Aquit saiu, deu dois passos, inclinou-se e nunca mais tornou a se erguer. Do fim da fila, um dos escoltas disparou uma descarga de fuzil AK nas costas dele.

— Isso é para ele não tornar a sair da fila sem permissão — comentou, apontando Aquit com o cano fumegante.

A visita (cap. 2)   Jesus Carreras era um dos chefes das guerrilhas contra a ditadura de Batista. Operava em Escambray, cordilheira montanhosa da zona central da ilha. Sua coragem pessoal nos combate o havia transformado em um herói lendário naqueles lugares. Mas o comandante Carreras não havia combatido para a instauração de uma ditadura mil vezes mais feroz da que ajudou a derrubar. E Castro mandou-o para o cárcere, como a tantos outros oficiais. Carrera havia tido atritos com Che Guevara em plena guerra, porque não aceitava a imposição de Castro de situar um comunista como chefe da frente guerrilheira de Escambray. Che e Castro nunca esqueceram isso. Conversávamos com freqüência porque vivíamos no mesmo grupo, e ele me disse que tinha certeza de que seria condenado à morte por causa daquilo. JESUS CARRERAS FOI FUZILADO. Pelos constantes fuzilamentos, a prisão de La Cabaña havia se transformado no mais terrível de todos os cárceres.

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Morte após morte (cap. 3)   Sorí Marín foi um dos mais estreitos colaboradores de Castro. Lutou ao lado deste nas montanhas e fez parte de seu Estado-Maior. Fez a lei da Reforma Agrária. Nos primeiros meses de triunfo revolucionário, esses laços apertaram-se mais ainda. Castro costumava almoçar  na casa de Sorí Marín, atraído pela excelente cozinheira que era a mãe dele. Por isso, a senhora Marín, quando soube que seu filho ia ser fuzilado foi falar com Castro. A velha abraçou, chorando, o líder revolucionário que lhe acariciava a cabeçal.    - Fidel, eu te suplico.. que não mate meu filho, faz isso por mim      - Acalme-se... Não vai acontecer nada com Humberto, eu prometo.         E a mãe de Sorí Marín, louca de alegria, beijou Fidel e foi comunicar à família que tinha conseguido afinal passaram tantos perigos juntos, partilharam tantos dissabores e angústias! Aquele passado comum não podia ser esquecido. Na noite seguinte, por ordem expressa de Castro, HUMBERTO SORÍ MARÍN foi fuzilado. Os homens que lutaram com Castro para estabelecer a democracia foram enganados; alguns fugiram do país, outros voltaram a empunhar armas ou participavam de planos conspiradores.
                                                     



As revistas, surras e saques (cap. 9)  Para ocultar o fato de que havia uma forte repulsa ao Governo comunista por parte dos camponeses, chamaram-nos de "bandidos" e criaram uma força especial contra os insurretos, o "Batalhões de Luta contra Bandidos" ou LCB. Buscando seu extermínio, fuzilavam não apenas os guerrilheiros, mas também os camponeses que atuavam como guias, correios e contatos.Os camponeses discordavam em grande número do regime de Castro e os que não integravam as guerrilhas cooperavam com elas de muitas maneiras. Aquelas terras são muito férteis e os camponeses plantavam bananeiras, tubérculos e todo tipo de frutos menores; criavam porcos e aves em seus pequenos sítios e o Governo considerava que era dessas fontes que os rebeldes se abasteciam. Para tirar-lhes esse apoio, o Governo idealizou um plano de reconcentração. Todas as famílias estabelecidas no Escambray e seus arredores foram desalojadas.  Caminhões do Instituto Nacional da Reforma Agrária (INRA) e do exército, cheios de tropas, pararam diante das casas humildes. Só lhes permitiram levar algumas roupas e objetos pessoais. As frutas, aves, porcos e algum gado foram confiscados pelo INRA. Destruíram as plantações, puseram fogo nas casas e a água dos poços foi envenenada. A política da terra arrasada para eliminar as fontes de abastecimento aos guerrilheiros foi meticulosamente levada a cabo. As mulheres e crianças foram separadas dos homens e levadas para Havana. Como se não bastasse, informaram às mulheres que teriam de ir para o campo, trabalhar na roça. As velhas ficariam cuidando das crianças.  Essa situação durou anos e em todo esse tempo jamais viram seus maridos, seus irmãos. As crianças em idade escolar foram separadas das mães e "colocadas" em escolas do Governo para serem "REEDUCADAS", de modo a anular a influência "daninha" dos mais velhos. Os homens foram levados até a península de Guanahacabibes, a região mais ocidental de Cuba e uma das mais inóspitas, a centenas de quilômetros de seus familiares. Esses camponeses jamais compareceram diante de um tribunal, não foram a julgamento, mas estavam presos. Foram ameaçados de fuzilamento, se tentassem escapar. Foram obrigados a realizar trabalhos agrícolas e a construir os Campos de Concentração Sandino 1, 2 e 3, que ainda existem. Quando terminaram esses três campos de concentração, disseram a eles que iam construir uma cidadezinha e que quando ela estivesse pronta morariam lá com suas famílias. Com essa ilusão, aqueles homens trabalharam dia e noite, erguendo blocos de edifícios. Ao terminá-la, as mulheres e as crianças foram levadas para lá. Desse modo, muito antes de existirem as aldeias estratégicas do Vietnã, Castro já as havia posto em prática em Cuba. Essa primeira chamou-se Cidade Sandino e ainda existe. O estrangeiro sabe muito pouco dessas cidadezinhas e da terrível tragédia daquelas famílias, não há um papel, um documento, nada, para pelo menos cobrir a forma daquele despojo e do que aconteceu nos anos que se seguiram.   




A vara Ho-Chi-Minh (cap.17)   

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Presídio modelo Ilas de Pinos
Na manhã seguinte soldaram as portas. O tenente Cruz, da Polícia Política, disse-nos que era uma ordem pessoal de Castro.O médico militar era um comunista que tentava parecer-se com Lênin, usando o mesmo tipo de barbicha. Chamava-se Lamar, era um sádico. Quando lhe pedi assistência médica, assomou-se pela fenda, olhou minha perna e disse.  — Espero que isso seja uma boa gangrena... Eu mesmo entrarei aí para cortá-la.    A perna continuava muito inflamada ao redor do tornozelo e o pé do derrame estava com uma cor escura, a pele brilhante, de tão inchado. Não podia ficar de pé e me locomovia sentado, arrastando-me sobre as nádegas. A situação se tornou mais difícil quando nomearam nossos guardiões os soldados que estavam de sentinela no quartel na noite da fuga. Impossível descrever a sanha daqueles homens.  Um deles arranjou uma lata de cinco galões e levou-a aos presos comuns para que urinassem e defecassem nelas. Quando estava até a metade dessas imundícies, juntou água e subiu ao teto de malha das celas. Foi a sensação de frialdade que me acordou. Estava molhado de cima a baixo, sentado em um charco fétido, pestilento. Pedaços de excremento deslizavam por minha cabeça e minha cara. Com a surpresa, não pude evitar que me caíssem dentro da boca. Com o dedo indicador, empurrei uns restos de excrementos dos ombros e das coxas, depois me arrastei até o chuveiro, para me lavar. A água estava fechada. Chamei o guarda. Não respondeu. Então, chamei Boitel e os outros; contei-lhes o que tinha acontecido. Todos começaram a gritar :
574-o-gigantesco-e-desativado-presidio-model,-onde-ficou-preso-fidel-castro-na-isla-de-la-juventud,-em-cuba-p1010732.jpg (574×430)— Água! Água!     O guarda loiro, o mesmo que tinha jogado urina e excrementos em mim, entrou no corredor e mandou-nos fazer silêncio. Depois disse que havia recebido ordens para nos dar água só para beber e na hora da comida. Um instante mais tarde chegou outro militar com uma chave inglesa e apertou fortemente os registros situados no corredor e fora do nosso alcance. Durante mais de três meses ficaram de guarda ali. Em todo esse tempo não nos deixaram tomar um banho sequer. Só tínhamos aqueles banhos de urina e fezes, que eles nos davam de cima do teto de malha. A porcaria secou nos pelos do nosso corpo. O mau cheiro enchia a cela.                                                                                                                                                   
Quando alguém lê ou ouve falar sobre um prisioneiro confinado numa cela, nas condições que nós estávamos, nunca pensa em certas coisas, porque é impossível concebê-las fora de um cárcere. Entre elas, como satisfazer as necessidades fisiológicas com um mínimo de higiene. Tínhamos que fazê-lo ali, naquele buraco, em um dos cantos; mas ao terminar não havia nada para nos higienizarmos: nem água, nem sabão, nem papel, nem um pedaço de pano. Como papel higiênico tínhamos que usar os dedos. Não havia outro jeito. Boitel estava gritando e discutindo com um guarda. Eu não sabia do que se tratava:                               
— Isso é covardia. Vocês são uns miseráveis e fazem tudo isto amparando-se na força da farda!                    
— Boitel nos explicou que o haviam fincado com um pau. Na realidade, não entendi bem o que ele estava querendo dizer até que o guarda, caminhando pelo teto, chegou à minha cela. Estava com uma comprida vara de madeira, com a ponta afinada, e logo percebi o que tinha acontecido.                                        
Desde então, as varas de Ho Chi-Minh iriam nos torturar e levar à beira da loucura. Eu estava esgotadíssimo. A falta de sono e a tensão afetavam-me seriamente e eu notava. Recorria, então, a Deus. Minhas conversas com Ele terminavam em um fortalecimento espiritual que, eu sentia, dava-me novas energias.Continuaram jogando baldes de urina e excremento em nós. Nas madrugadas daquele frio inverno, jogavam também água gelada. Era desagradável, mas nos permitia limpar um pouco os restos de excremento do piso da cela.


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Baía dos Porcos
A importância de viver (cap. 20)   Primeiro, a derrota da invasão da Baía dos Porcos, depois, a revista e a constante ameaça de voarmos com os explosivos foram as causas do desencanto, da frustração de muitos prisioneiros. As guerrilhas nas montanhas haviam sido esmagadas. Todos esses acontecimentos gravitavam sobre o presídio e determinaram que certos prisioneiros optassem por se voltarem para os planos de reabilitação política. A situação familiar também influiu. A revolução ditou uma resolução mediante a qual todos os bens de quem atentasse contra o Estado seriam confiscados.
Em outubro de 1962, ainda na prisão, soubemos da presença de foguetes soviéticos em Cuba. A informação nos foi dada pelo radinho. O país estava em perigo de ser invadido pelos Estados Unidos. Os terrenos ao redor das circulares foram semeados de afiadas estacas de madeira contra a descida de pára-quedistas que pudessem ser lançados para tomar o presídio. Várias baterias instaladas apontavam para nós e os técnicos que cuidavam do TNT ativaram explosivos para nos fazerem em pedacinhos. Foram dias angustiosos. Como íamos sabendo dos acontecimentos, sabíamos que poderia estourar uma guerra nuclear. É sabido que nunca o mundo correu maior perigo que naquela ocasião. Se acontecesse, nós seríamos os primeiros mortos.


OS NUS (cap. 28)   Tiraram-nos da galé e em um canto do pátio os barbeiros fizeram-nos um ridículo corte de cabelo, raspando tudo a zero, menos um chumaço de cabelos sobre a testa. Sem roupa, o ar gelado me arrepiava inteiro. Passava o tempo todo com a pele eriçada. Saímos do pátio escoltados por guardas armados com fuzis AK e baioneta calada. Enfiaram-nos no curral onde eram feitas as visitas. Poucos minutos depois, fizeram-nos sinais para que começássemos a andar. Naquela manhã de 5 de outubro de 1967 tudo era cinzento, o céu, o ar. Já nos aproximávamos das instalações da diretoria quando uma porta se abriu e o diretor saiu. Ele disse a um dos guardas que me fizessem entrar em um local à direita. Escutei vozes e de repente a porta se abriu. Minha mãe e Martha foram literalmente empurradas para dentro da sala. Eu queria que a terra se abrisse embaixo de meus pés e me engolisse. Minha primeira reação foi abraçar-me à minha mãe para ocultar minha nudez. Aquela canalhice dos militares, fazendo-a entrar eu estando sem roupa, era uma atitude inqualificável.

A existência dos prisioneiros políticos nus foi denunciada diante de governos e organizações internacionais, mas estes não se preocuparam em se manifestar. A Anistia Internacional manteve-se em silêncio. Seu diretor era, nessa época, Sam McBride, que recebeu o Prêmio Lênin da Paz, concedido, como se sabe, pelo Soviet Supremo da URSS aos que defendem os interesses da União Soviética, sua política exterior e suas concepções ideológicas. Esse mesmo Sam McBride, dez anos depois, em julho de 1978, presidia uma conferência sobre Direitos Humanos, realizada na Venezuela, para denunciar as violações que estavam acontecendo na América Latina. Correto e gentil, cumprimentou minha esposa, que participava da conferência, sem saber quem era ela. Quando Martha começou seu discurso e o sr. McBride escutou-a dizer que em Cuba os Direitos Humanos eram violados, perdeu toda a compostura, gritou, histérico, e proibiu-a de continuar falando. Martha tentou continuar a exposição e o sr. McBride começou a bater fortemente sobre sua mesa, gritando, ao microfone, para os tradutores, que faziam tradução simultânea, não traduzirem as palavras dela, impedindo, dessa maneira, e diante da consternação de todos os presentes, que ela continuasse falando. No dia seguinte, na primeira página do jornal venezuelano Últimas Notícias, havia esta manchete, ocupando toda largura do jornal: "VIOLAM-SE OS DIREITOS HUMANOS EM CONFERÊNCIA SOBRE DIREITOS HUMANOS". Os demais órgãos da imprensa também comentavam o incidente com duras críticas. O sr. McBride não queria ouvir nada sobre a violação dos Direitos Humanos em Cuba. O que teria pensado o Soviet Supremo se ele o tivesse permitido? Talvez lhe retirassem a medalha Lênin da Paz e seus comparecimentos a Rádio Moscou.                                                                       

Uma prisão Nazi no Caribe (cap. 30)   De todas as prisões e campos de concentração de Cuba a mais repressiva é o cárcere de Boniato, o plano de extermínio e de experiências biológicas e psíquicas mais desumano, brutal e impiedoso que o mundo ocidental conheceu, depois dos nazistas. Foram pródigos em maldades, sanha e torturas.   A capacidade de resistência é algo muito difícil de medir no ser humano. Homens que haviam enfrentado a ditadura castrista em combates a tiros limpos, nas montanhas ou nas cidades, que tinham entrado ou saído de Cuba clandestinamente em missões de guerra, que tinham dado demonstrações de coragem e de heroísmo, não podiam, desarmados, enfrentar o terror, a incomunicabilidade, o confinamento por muito tempo. E cediam. A cada dia os corpos emagreciam, as forças fugiam, as pernas fraquejavam, mas nossos cimentos interiores se solidificavam e urna força indestrutível ia se erguendo dos cantos mais remotos da alma e do cérebro: a fé, que com cada baionetada, com cada ignomínia, com cada vexame, com cada surra, firmava-se mais ainda.
Trataram de impedir nossas práticas religiosas, de interromper, de desbaratar, de calar as orações e isso custou-nos rações extras de espancamentos.

Uma noite, em um descuido, abstraído pela leitura, surpreenderam o irmão Rivero, outro pregador protestante, lendo uma pequena Bíblia que tinha entrado burlando a vigilância dos guardas. Descobri-la foi, para os comunistas, como achar um depósito de armas. Em cinco minutos o diretor do presídio, o chefe da Polícia Política e um grupo de oficiais amontoavam-se diante da cela de Rivero, um negro velho, todo bondade, carinhoso e suave para conosco, mas rebelde e ácido para com os inimigos. Entraram, bateram nele com um sabre da cavalaria — em todo o corredor ouvia-se o som da lâmina de aço contra as veneráveis costas do irmão Rivero. Não lembro quantas pancadas lhe deram; podem ter sido quinze, vinte, talvez mais, não sei ... Ali mesmo, com ódio e raiva, despedaçaram a Bíblia e o deixaram com as costas em carne viva.                                                                                                                                             

Uma greve imposta (cap. 33)   A propaganda de Castro e de seus porta-vozes no mundo abafava os gritos dos torturados e  o clamor de suas vítimas. Cuba era, para a maioria das pessoas no exterior, uma espécie de paraíso terreno conseguido graças à revolução.
A grande imprensa apoiava, com suas informações distorcidas sobre a realidade cubana, o tirano Castro, e os governos de países capitalistas da Europa ofereciam-lhe apoio diplomático, comercial e generosas ajudas financeiras gratuitas, como é o caso da Suécia.  A Internacional Socialista oferecia, então, seu respaldo moral e político ao tirano. As denúncias a organizações internacionais, especialmente à Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas, eram boicotadas e freadas pelos que apoiavam Cuba e, por isso, as centenas de informações e documentos que provavam de maneira irrefutável as torturas, crimes e violações dos Direitos Humanos cometidos pelo regime de Castro eram atirados aos cestos de lixo.

Quando abriam as galés para os presos saírem ao pátio, alguns de nos conseguíamos burlar a vigilância e nos misturávamos com os demais prisioneiros.  Foi assim que conheci Pierre Golendorf, um intelectual marxista francês, que tinha viajado para Cuba e trabalhado para o governo cubano. Mas Pierre comprovou a falsidade dos cacarejados "logros" da revolução e compreendeu que a ilha era uma grande fazenda em que Castro mandava como um maioral escravagista. E disse isso. E escreveu isso. E revelou em suas cartas a mentira que era a revolução, sem desconfiar que a Polícia Política censurava sua correspondência.  Acusaram-no, como a todos os que discordam, de agente da CIA. Meus companheiros tinham um pouco de hostilidade contra Pierre por seus antecedentes políticos. Era membro do Partido Comunista francês. Eu nunca me irritei por alguém pensar de maneira diferente da minha e tinha verdadeiro interesse em conversar com ele. E daquelas grades para dentro, todos nós éramos prisioneiros — pensava.
Naquela tarde Pierre lavava um de seus uniformes nos tanques do pátio. Sentei-me ao lado dele, cumprimentei-o e perguntei-lhe que motivos o haviam levado para a prisão. Para mim, seus critérios, seus enfoques da realidade cubana, eram muito importantes e interessantes, por serem analisados de outra perspectiva.

— Você viu, Pierre, o que o comunismo fez com o nosso país — disse-lhe. — A ditadura de Batista foi substituída por outra mais feroz, mais cruel e repressiva, em todos os aspectos. Você, só por ter escrito o que viu, foi acusado de ser agente da CIA e condenado a dez anos de cadeia. A nova tirania é mais implacável do que a anterior.

Eu o fiz saber que, com Batista, os comunistas tinham até podido participar do Governo. Carlos Rafael Rodriguez, o atual vice-presidente de Castro, tinha sido um dos ministros do gabinete do ditador anterior. E Blas Roca e Lázaro Pena, também comunistas, haviam desfrutado dos benefícios da ditadura de Batista, mesmo exilados.

Pierre mostrou-se surpreso.

— Comprovei, amargamente, que muitas coisas aqui não são como eu imaginava. Achei que a revolução cubana era o ideal socialista, que devolveria a liberdade ao povo. Vim para cá como um entusiasta admirador desse processo. disposto a dar-lhe o melhor de mim, mas encontrei uma burocracia implacável, com uma nova classe poderosa que eliminou todas as liberdades e com uma desorganização que é quase um dogma. O país é governado, como se fosse um quartel, por um ditador implacável, que o faz debaixo de uma fraseologia revolucionária com a qual conseguiu enganar muitos, como a mim.

— E o mais dramático é que esse engano não permite aos cubanos conhecerem a verdade destes cárceres e campos de concentração, das torturas e crimes.

— É verdade, Valladares. A maioria da esquerda européia é benevolente com Castro e parece-lhes aceitável que ocorram fatos reprováveis, que eles qualificam como legítimos atos de defesa da revolução.

cuba_vamos_bien.jpg (320×208)— As ditaduras boas não existem. Se terríveis e injustificáveis são as de direita — continuei, — muito mais sanguinárias são as totalitárias de esquerda. A primeira corta um braço do homem. A segunda, as quatro extremidades e, além disso, tritura-lhe o cérebro. Stalin e Mao aniquilaram juntos mais de cento e vinte milhões de pessoas. E seus seguidores, como Castro, continuarão fazendo isso, porque de outro modo não podem se manter no poder.


Paco Arenal foi designado para falar com a guarnição. Todos os dias, no início da manhã, chamava o oficial de guarda:

— Por favor, queremos o café da manhã. — Vão aceitar nossas condições?

— Queremos comer sem condições políticas.

Na hora do almoço e do jantar repetia-se o pedido para que nos dessem comida. Nem um só dia deixamos de fazê-lo. Em outras ocasiões havíamos entrado em greve de fome por decisão nossa; agora, era diferente: eram os militares que se negavam a nos dar alimentos.

Todos os dias pedíamos comida e dizíamos a eles que queríamos comer. Tinham começado a nos negar alimentos no dia 24 de junho; julho já havia passado e estávamos em principio de agosto.







                                                                                                                     











2 comentários:

  1. Como são HIPÓCRITAS essa turma dos DIREITOS HUMANOS... Há muito que sabemos que prá quem precisa, é meio UTÓPICO... Na maioria das vezes só beneficia aos detentores do PODER!!

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  2. Também sou contra a um regime que se diz bonzinho, mas que na verdade, é um lobo disfarçado em pele de carneiro.

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